CABEÇALHO-Pintura oferecida à Escola Secundária Augusto Cabrita, pelo pintor do Barreiro Kira, em homenagem ao seu amigo Augusto Cabrita.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Contos de fadas e contos tradicionais.

 


 “Hoje, muitos dos nossos filhos, estão totalmente privados da oportunidade de conhecer os contos de fadas. A maior parte das crianças de hoje toma conhecimento dos contos de fadas em versões embonecadas e simplificadas as quais abrandam o seu sentido e lhes roubam qualquer significado mais profundo.

Durante a maior parte da história do homem, a vida intelectual da criança, dependia de histórias míticas ou religiosas e de contos de fadas.”

Bettelheim, Bruno (2008). A Psicanálise dos Contos de Fadas. Bertrand Editora, 13ª edição, Lisboa. pp 34-35


Os Contos Tradicionais. ERA UMA  VEZ...

Contar para dar sentido à vida

1. Ignora-se a época em que foram concebidos. A sua origem é intemporal, perde-se e confunde-se com o tempo primordial. São fundantes, rituais e simbólicos para configurar um sentido pessoal e social para a comunidade.

2. São uma literatura de tradição oral que apenas foi preservada pela repetição, pela transmissão oral de geração em geração. Foram séculos e até milénios de acrescento de pontos aos contos. O contador “profissional”, o pai, a avó ou vizinho animava junto à lareira ou à soalheira a curiosidade do iniciado, do jovem.

3. Os contos não foram uma literatura exclusivamente para crianças. Falam do destino, reproduzem a memória das coisas, contam as venturas e desventuras da comunidade. Num ambiente de ruralidade e de isolamento provocam a meditação sobre o destino e os valores inerentes da própria comunidade. Confrontam e problematizam a pessoalidade e contribuem para a socialização da criança.

  4. A partir do século XVIII ( Os Grimm; Perrault; Andrew Lang; Jorgen Moe e A. C. Andersen, entre outros...), através da recolha, compilação, escrita e reescrita direcionam estas histórias comunitárias e societais para a educação e formação da criança.

 5. O uso e difusão da imprensa na sociedade veio salvaguardar esta literatura tradicional de expressão oral e fê-la chegar até aos nossos dias. O trabalho de adaptação, depuração e adequação à sociedade atual e aos valores de uma certa universalidade de época, permitiu evitar o desaparecimento destes contos face às ameaças de outros meios e estilos de escrita . Assim, sem o esforço referido os contos teriam desaparecido e todas as pontes de ligação com a memória social e cultural teriam sido destruídas.

6. É verdade que a escrita adaptativa destas histórias ganham elegância no papel, retocam-se e ilustram-se e perdem alguma pureza e originalidade.

7. Sendo também verdade que alguns contos adaptados que hoje enchem os escaparates de qualquer livraria são bem menos elegantes e bem mais violentos e cruéis do que quando eram mediados pelo contador oralmente à fogueira em ambiente familiar ou  de grupo.

8. Ganhámos com a escrita adaptada em duas frentes: temos o prazer de fruir a versão estética e artística do adaptador e, temos, numa segunda frente, a versão mais pura e próxima do oral através dos investigadores da etnografia e folclore do século XIX – XX.

9. As histórias de lobisomens contadas pelos nossos avós à lareira eram arrepiantes e remetiam-nos para os urros e o bater dos cascos do bicho transformativo na terra dura da rua e, habitualmente, associava o bicho a uma pessoa conhecida da aldeia, o que tornava a coisa ainda mais terrifica e feérica.

10. Pela oralidade, pela escrita, pela reescrita adaptada e readaptada, pela escrita ilustrada, estes contos contribuíram e contribuem para a criança “lutar para dar um sentido à vida”

A  Equipa da BE