CABEÇALHO-Pintura oferecida à Escola Secundária Augusto Cabrita, pelo pintor do Barreiro Kira, em homenagem ao seu amigo Augusto Cabrita.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

 


Um poema por dia até ao Dia dos Namorados

12 Poemas de Amores - Dia dos Namorados

Por

Domingos Boieiro

(Equipa da BE)

 

1. DISSE QUE SIM||

O teu corpo de abóbora menina,

A tua boca de pêssego carnudo.

Por ti, todo o meu ser desatina,

Porque de ti quero tudo, tudo!

 

Teus cabelos de belo e fino oiro,

Lembram-me um mar de palha.

Meto os dedos e enleio o tesoiro.

São cor e jogo, chama e fornalha!

 

Os corações como num braseiro,

Em firmada e violenta sinfonia.

De amor vero, límpido e inteiro,

O grito na noite ecoa no dia!

 

Sussurras e dizes: Fica em mim!

Fiquei sem fio e sem pensar.

Como a água no rio, disse sim!

A lua e o sol, unos, a testemunhar!

 

2. ASAS PARA VOAR||

Para voar não precisas de asas,

Bastam-te os ecos do amor,

E que do teu coração faças,

Um aparelho afinado e voador.

 

Para voar não precisas de asas,

Saibas tu amor, alto sonhar,

Nas noites cheias de mariposas,

Que se deixam na luz enfeitiçar.

 

Para voar não precisas de asas,

Com as mãos em fino cristal,

E erguendo as nossas taças,

Voaremos no espaço sideral.

 

Voaremos sempre para sempre,

Através das nossas palavras,

Planando chegaremos em frente,

Ao céu que tanto amas e lavras.

 

Meu amor, meu anjo de veludo,

Não precisamos de asas para voar,

Sempre que com fulgor te desnudo,

Não precisas de asas para voar!

 

3. O BEIJO DE CAPIVARA||

Ó como eu te queria beijar,

Moldar o meu corpo no teu.

É ainda desejo só meu,

É ainda proibido desejar!

 

Ó como eu te queria amar,

Com suor alimentar o fogo.

Em carícias como num jogo,

Na gruta em ti descansar!

 

Os teus lábios abertos beijar,

Esmagá-los contra os meus,

Que não mais pudesses respirar!

 

A sangue, no teu corpo desenhar,

Com dedos e pedra, sinais meus,

Que não mais quisesses apagar!

EPÍLOGO :

Este é o maravilhoso e intemporal segredo do Beijo da Serra de Capivara, Brasil. Pintura rupestre com o beijo artístico mais antigo.

Digam o que disserem os especialistas:

Eles não sabem beijar!

 



4. FLORES NA AREIA||

Lancei as cinzas no mar,

Nas correntes da vida,

Não foi para te prantear,

Nem singela despedida. 

Na areia da praia sofrida,

Os olhos no horizonte,

Em ternura acrescida,

Do nascente até ao poente.

 

De costas a eterna arriba,

Mapeada de seres fósseis,

Como a tua tela preferida,

Com os teus gestos dóceis.

 

Nada nos faz despedir,

Entrámos um no outro,

Não sabemos o verbo partir,

Nem como sair do outro.

 

Dei-te em ramo mil flores,

Mas o mar o trouxe aos pés,

História dos nossos amores,

Inscrita na língua das marés.

 

O ramo à praia mandado,

Não é saudade nem dor,

Nem sal fino derramado,

É o sinal do nosso amor!

 

5. HELENA||

Por estas ruas e ruelas antigas,

Chegam-me vozes do passado,

Rostos de formosas raparigas,

A mais bela de todas a meu lado.

 

De seu nome dúctil Helena,

Da aurora grega da civilização,

Não é a disputada greco - troiana

É a que mora dona no meu coração.

 

6. AMORES||

Não sei se foi o sorriso ou o jeito de andar.

Se foi o olhar ou o jeito de falar.

Sei que é o meu Amor.

Sei que é a minha companheira.

 

7. SE TU FORES A PRIMEIRA||

Amor, vamos imaginar,

Se tu fores a primeira,

Na barca a embarcar,

Juro, estarei sempre à tua beira!

 

Prometo-te agora em vida,

A tua memória revisitar,

Manterei limpa a laje fria,

Levarei cadeira para me sentar!

 

Mudarei na jarra as flores,

Beijarei as tuas fotografias,

Falaremos dos nossos amores,

Serenos e eternos, todos os dias!

 

Vestirei o colete rameado,

O que sempre levei para dançar.

E tu levarás o vestido bordado,

Para metermos o salão a rodopiar!

 

E sentado juntinho ao teu lado,

Recordaremos o nosso quintal,

As ervas de cheiro do teu agrado,

Que temos na frescura do laranjal!

 

Como a morte tudo muda,

Só a dor da perda permanece.

Só o amor nos serve de cura,

Para a ausência que nos entristece!

 

Na hora da despedida,

Se tu fores a primeira,

Prometo-te, minha querida,

Amar-te a vida inteira!

 

8. PROCURA||

Tudo em nós é procura

Que preencha o vazio

Alguma alegria, ternura,

O sonho, a vida e o fio!

 

No teu olhar os sorrisos

No corpo a celebração

No cabelo os movimentos

Dos nossos dias de paixão!

 

Os sinais estão no vento suão

E as promessas no vento norte

E os gestos doces da tua mão

São o desejo e a nossa sorte!

 

Amor, que todos os nossos dias

Sejam superação das incertezas

E odes e hinos às nossas alegrias

Vencedoras das nossas tristezas!

 

9. HILARIANTE ARTE DE BAILAR||

O cisne no seu bailado,

Riu-se troçando de mim,

Pois, não sei bailar assim!

Tentei e fiquei estatelado!

 

Enfim! Que ridículo toucado,

Que coloquei na cabeça,

Para bailar todo enfeitado,

Desde a nuca até à testa!

 

Os pés de chumbo tropeçaram,

Caí tolo, todo desamparado.

E as lágrimas de sal rebolaram,

Pelas faces deste desgraçado!

 

Esta trapalhada aconteceu,

Não fui mais convidado!

Por ser muito desajeitado,

O bailado para mim morreu!

 

10. PARA TI||

São flores de todas as cores

No fértil campo apanhadas

Símbolos vários dos amores

Das veras almas enamoradas!

 

11. O PERFUME||

O teu perfume voa no vento

Em nuvens revoltas de desalinho

Que trazem água e sustento

Nos pingos que falam baixinho!

 

O rio criou peixes amarelos

E o tempo corre com tempo

Há corpos que vão paralelos

Na corrente de efeito lento!

 

O teu perfume voa no vento

E Vénus brilha mais e mais

E é luz e orientação. Tento

Assim, no mapa abrir canais!

 

O rio que criou peixes amarelos

Como um feiticeiro os interpretou

E disse baixinho: Bebe os olhos belos,

Gosta deles como ninguém gostou!

 

O teu perfume viajou no vento

Na procura do que sempre te amou!

 

12. A BELEZA DA DIVISÃO||

Ela só sabia o que era somar

E desse modo não entendia

Que assim só se subtraía

Nestas contas do gostar!

 

O trabalho que foi preciso

Para lhe conseguir ensinar

A não pensar só em somar

E não ser o espelho de Narciso!

 

E a passo amoleceu o coração

E de partilha em partilha

E de maravilha em maravilha

Lá descobriu a beleza da divisão!

 

E não mais quis somar

Porque isso era subtrair

E de sentir em sentir

Viu como é bom partilhar!

 

Nesta beleza do ato da divisão

De muitos caminhos e sarilhos

E também de alegrias e pecadilhos

Descobriu o milagre da multiplicação!

 

Aprendeu como é bom amar alguém

Desde que more fundo no coração

E na arte da divisão e da multiplicação

Fez do amor inteiro o seu maior bem!

 

Um Amor assim, maior e certeiro

Não tem alturas nem comprimentos

Tem no peito o baloiçar dos sentimentos

E é o bastante por ser grande e verdadeiro.