Contos de fadas e contos tradicionais.
“Hoje, muitos dos nossos filhos,
estão totalmente privados da oportunidade de conhecer os contos de fadas. A
maior parte das crianças de hoje toma conhecimento dos contos de fadas em
versões embonecadas e simplificadas as quais abrandam o seu sentido e lhes
roubam qualquer significado mais profundo.
Durante a maior parte da história do homem, a vida intelectual da criança,
dependia de histórias míticas ou religiosas e de contos de fadas.”
Bettelheim, Bruno (2008). A Psicanálise dos
Contos de Fadas. Bertrand Editora, 13ª edição, Lisboa. pp 34-35
Os Contos Tradicionais. ERA UMA VEZ...
Contar
para dar sentido à vida
1. Ignora-se a época em que foram concebidos. A sua origem é intemporal,
perde-se e confunde-se com o tempo primordial. São fundantes, rituais e
simbólicos para configurar um sentido pessoal e social para a comunidade.
2. São uma literatura de tradição oral que apenas foi preservada pela
repetição, pela transmissão oral de geração em geração. Foram séculos e até
milénios de acrescento de pontos aos contos. O contador “profissional”, o pai,
a avó ou vizinho animava junto à lareira ou à soalheira a curiosidade do
iniciado, do jovem.
3. Os contos não foram uma literatura exclusivamente para crianças. Falam
do destino, reproduzem a memória das coisas, contam as venturas e desventuras
da comunidade. Num ambiente de ruralidade e de isolamento provocam a meditação
sobre o destino e os valores inerentes da própria comunidade. Confrontam e
problematizam a pessoalidade e contribuem para a socialização da criança.
4. A partir do século XVIII ( Os Grimm; Perrault; Andrew Lang;
Jorgen Moe e A. C. Andersen, entre outros...), através da recolha, compilação,
escrita e reescrita direcionam estas histórias comunitárias e societais para a
educação e formação da criança.
5. O uso e difusão da imprensa na sociedade veio salvaguardar esta
literatura tradicional de expressão oral e fê-la chegar até aos nossos dias. O
trabalho de adaptação, depuração e adequação à sociedade atual e aos valores de
uma certa universalidade de época, permitiu evitar o desaparecimento destes
contos face às ameaças de outros meios e estilos de escrita . Assim, sem o
esforço referido os contos teriam desaparecido e todas as pontes de ligação com
a memória social e cultural teriam sido destruídas.
6. É verdade que a escrita adaptativa destas histórias ganham elegância no
papel, retocam-se e ilustram-se e perdem alguma pureza e originalidade.
7. Sendo também verdade que alguns contos adaptados que hoje enchem os
escaparates de qualquer livraria são bem menos elegantes e bem mais violentos e
cruéis do que quando eram mediados pelo contador oralmente à fogueira em
ambiente familiar ou de grupo.
8. Ganhámos com a escrita adaptada em duas frentes: temos o prazer de fruir
a versão estética e artística do adaptador e, temos, numa segunda frente, a
versão mais pura e próxima do oral através dos investigadores da etnografia e
folclore do século XIX – XX.
9. As histórias de lobisomens contadas pelos nossos avós à lareira eram
arrepiantes e remetiam-nos para os urros e o bater dos cascos do bicho
transformativo na terra dura da rua e, habitualmente, associava o bicho a uma
pessoa conhecida da aldeia, o que tornava a coisa ainda mais terrifica e
feérica.
10. Pela oralidade, pela escrita, pela reescrita adaptada e readaptada,
pela escrita ilustrada, estes contos contribuíram e contribuem para a criança “lutar
para dar um sentido à vida”
A Equipa da BE
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