No mês das Bibliotecas Escolares iremos partilhar algumas leituras. Começamos com um texto de José Luís Peixoto.
"Os livros, esses animais sem
pernas, mas com olhar, observam-nos mansos desde as prateleiras. Nós
esquecemo-nos deles, habituamo-nos ao seu silêncio, mas eles não se esquecem de
nós, não fazem uma pausa mínima na sua vigia, sentinelas até daquilo que não se
vê. Desde as estantes ou pousados sem ordem sobre a mesa, os livros conseguem
distinguir o que somos sem qualquer expressão porque eles sabem, eles existem
sobretudo nesse nível transparente, nessa dimensão sussurrada. Os livros sabem
mais do que nós mas, sem defesa, estão à nossa mercê. Podemos atirá-los à
parede, podemos atirá-los ao ar, folhas a restolhar, ar, ar, e vê-los cair,
duros e sérios, no chão.
(...) Os livros, esses animais opacos
por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e,
ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as
contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados,
a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os
pesadelos, até a esperança em todas as suas formas".
José Luís Peixoto, in
Jornal de Letras (Maio, 2011)
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