Hoje sugerimos um poema de
Manuel António Pina
Na Biblioteca O que não pode ser dito guarda um silêncio feito de primeiras palavras diante do poema, que chega sempre demasiado tarde, quando já a incerteza e o medo se consomem em metros alexandrinos. Na biblioteca, em cada livro, em cada página sobre si recolhida, às horas mortas em que a casa se recolheu também virada para o lado de dentro, as palavras dormem talvez, sílaba a sílaba, o sono cego que dormiram as coisas antes da chegada dos deuses. Aí, onde não alcançam nem o poeta nem a leitura, o poema está só. E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta. Manuel António Pina, in Poesia, Saudade da Prosa: uma antologia pessoal |
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